sexta-feira, 5 de abril de 2013

Guia Básico de Cinema Capítulo XVIII

Faltando apenas 15  filmes ou 3 postagens sobre o Guia Básico de Cinema, falo hoje de 5 filmes que já queria ter mencionado. São 4 estrangeiros e 1 americano. Dos estrangeiros, você vai notar que 3 são do mesmo diretor, tornando essa lista de hoje bem diferente das demais, onde, na maioria, procurei seguir um padrão.

São eles:


Ivan, O Terrivel - Ivan Groznyy (Sergei Eisenstein - 1944)

A partir de sua coroação como o 1º Czar da Rússia, Ivan Vassiliévitch, o grão-duque de Moscou, tem que lutar incessantemente contra seus inimigos boiardos que, em meio a uma infinidade de tramas e traições, tentam a todo custo sabotar seu reinado e apeá-lo do trono. Ao mesmo tempo em que batalha com seus inimigos internos, Ivan procura bater os externos que vivem em suas fronteiras, para assim, unir vários principados em um único e grande país, a pátria russa.

Vamos falar a verdade. Ivan, O Terrível é um filme muito difícil de se assistir. Seuss atos, que na verdade são bem poucos, se passam de maneira muito lenta. Há somente uma cena de batalha, em que é possível ter alguma coisa parecida com ação. Mas mesmo assim, o filme está em qualquer listagem séria com os 100 melhores de todos os tempos. Por que isso? Apesar do filme ser complicado e arrastado, a história é boa e interessante, mas o que realmente consagra o longa é a direção magistral de Sergei Eisenstein. Não é a toa que é considerado um gênio da 7ª arte. Outro filme seu muito famoso, o Encouraçado Potemkin, é considerado como um dos 5 maiores de todos os tempos, provando que Eisenstein não é reverenciado à toa. Aqui, os cenários são enormes e suntuosos e mesmo o filme sendo muito antigo e em preto e branco é possível perceber claramente a riqueza de detalhes nos ornamentos e a riqueza dos figurinos. Agora, as técnicas de filmagem usadas por Eisenstein são únicas. É  aqui que o filme se destaca sobre os demais. O diretor usa cortes e planos simplesmente inacreditáveis, abusando de maneira espetacular de closes impressionantes nos personagens, combinados com um jogo magistral de luzes e sombras. É maravilhoso.

Existe uma parte 2 para o filme, que só foi lançada em 1958, devido a uma proibição de Stalin, por entender que seu conteúdo era anti-comunista e crítico a ele. Quando foi informado que a parte 2 de seu filme não poderia ser lançada por ordem do próprio Stalin, Sergei Eisenstein desligou o telefone e teve um ataque cardíaco fulminante que o matou. A ideia era para ser uma trilogia, porém o 3º e último filme nunca foi produzido, deixando a obra incompleta.


Os Sete Samurais - Schichinin no Samurai (Akira Kurosawa - 1954)

Um samurai veterano que enfrenta tempos difíceis responde ao apelo de alguns pobres camponeses para proteger sua vila que vem sendo constantemente atacada por bandidos. Para isso, ele precisa unir um grupo em prol da empreitada, convocando assim mais 6 ex-samurais para lutar a seu lado, bem como ensinar aos camponeses a se defender e proteger sua vila.

Embora a estória contada em Os Sete Samurais seja muito boa, ela certamente já deve ser velha conhecida de muitos, pois foi refilmada em 1960 por John Sturges com o nome de Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven), um dos westerns mais conhecidos e clássico absoluto do cinema. Aliás, pelo menos mais um filme de Akira Kurosawa foi refilmado como western, como verão abaixo. Embora seja um filme muito longo, com 208 minutos, ele é tão bem montado e a estória tão bem amarrada que o tempo parce correr. Quando percebemos, já estamos na maravilhosa cena final onde a vila é atacada por 40 bandidos e os samurais lutam na chuva, em uma das mais belas sequências do já filmadas.


Yojimbo, O Guarda-Costas - Yôjimbô (Akira Kurosawa - 1960)

Sanjuro (Toshirô Mifune), um ronin (samurai desgarrado, sem mestre) chega em uma cidadezinha do Japão rural no século 19. Lá ele percebe que 2 mercadores rivais se enfrentam constantemente. Sanjuro percebe uma chance de lucrar com a situação, jogando um lado contra o outro. A situação começa a ficar ruim para Sanjuro quando retorna à cidade Unosuke, filho de um dos chefes em conflito e que possui um revólver. Após Sanjuro resgatar e reunir com seu marido e filho uma mulher que era abusada pela gangue de Unosuke, esse manda seus capangas espancarem Sanjuro, que só escapa da morte devido ao coveiro local que o resgata e o trata. Ao saber que o coveiro também havia sido vítima dos abusos cometidos por Unosuke, Sanjuro decide voltar e confrontar seu inimigo.

Outro filme simplesmente fantático do mestre Akira Kurosawa, e outro que também foi levado às telas mais tarde como western. Dessa vez foi pelo diretor italiano Sergio Leone, com seu clássico e 1º filme da trilogia do homem sem nome estrelada por Clint Eastwood, Por Um Punhado de Dólares, de 1964. O mais interessante é observar o dilema que vive o personagem principal Sanjuro. Como um ex-samurai ele é extremamente habilidoso. Na cidadezinha, não há ninguém que possa lhe fazer sombra. Então, embora ele acabe obtendo vantagens com a disputa entre os 2 "donos" da cidade, ao mesmo tempo isso lhe serve de diversão e passa tempo, pois se envolve em algumas lutas sangrentas contras os homens dos mercadores. Acontece, porém, que ele acaba se encontrando no meio de uma situação estranha, pois percebe que, ao invés de simplesmente lucrar com a condição em que se encontra a cidade, tem a chance de fazer algo útil e  limpar a cidade dos malfeitores, acabando com os constantes banhos de sengue que já se tornaram corriqueiros. Ótimo filme e boa introdução à obra desse genial diretor.


Um Estranho no Ninho - One Flew Over the Cukoo's Nest (Milos Forman - 1975)

R.P. McMurphy (Jack Nicholson) já tem um passado criminoso e, mais uma vez está com problemas com a lei. Para sair da enrascada e não ser preso, alega insanidade e é mandado para um hospital psiquiátrico para cumprir pena. Lá ele logo se torna paciente e testemunha dos métodos brutais e abusivos empregados aos pacientes pela diabólica enfermeira Ratched (Louise Fletcher). McMurphy e os outros detentos se unem para uma rebelião contra a opressiva enfermeira.

As atuações dos 2 atores principais e antagonistas, Jack Nicholson e Louise Fletcher foram tão boas que ambos ganharam o Oscar por seus respectivos papéis. Ao todo, Um Estranho no Ninho recebeu 5 Oscars, incluindo melhor direção e melhor filme. A atuação de Louise Fletcher como a sádica enfermeira Ratched é magnífica, colocando sua personagem em qualquer lista dos 10 melhores vilões de todos os tempos. O livro homônimo de Ken Kessey, no qual o filme foi baseado, é fruto de uma experiência pessoal do escritor, do período em que trabalhou no centro psiquiátrico Agnew, na Califórnia. Um Estranho no Ninho é um dos 3 únicos filmes a ganhar os 5 prêmios principais do Oscar. Os outros são Aconteceu Naquela Noite, de 1935 e O Silêncio dos Inocentes de 1992.


Ran - Ran (Akira Kurosawa - 1985)

Japão feudal, século XVI. Hidetora (Tatsuya Nakadai), o poderoso chefe do clã dos Ichimonjis, decide dividir em vida seus bens entre seus três filhos: Taro Takatora (Akira Terao), Jiro Masatora (Jinpachi Nezu) e Saburu Naotora (Daisuke Ryu). Com o primeiro fica a chefia do feudo, as terras e a cavalaria. Os outros dois ficam com alguns castelos, terras e o dever de ajudar e obedecer Taro. No entanto, Hidetora exige viver no castelo de alguns deles, manter seus trinta homens, seu título e a condição de grão-senhor. Mas Saburu, seu predileto, prevendo as desgraças que viriam com tal decisão, se mostra contrário à decisão paterna. Assim é expulso do feudo e acaba sendo acolhido por Nobuhiro Fujimaki (Hitoshi Ueki), que se mostra impressionado com sua decisão de contrariar o pai e casa-o com sua filha. Hidetora vai ao seu castelo, que agora é de Taro, e não é bem recebido, pois seu primogênito é encorajado por Kaede (Mieko Harada), sua mulher, para ter liberdade para tomar decisões e chefiar o feudo. Kaede quer vingar a morte dos pais, que foram mortos por Hidetora em um incêndio, e guarda muito rancor e igual rejeição. Hidetora sente isso quando vai ao castelo de Jiro e assim se vê isolado em seu ex-império e bem próximo da insanidade. 

Kurosawa nos trás novamente de maneira maravilhosa o Japão feudal. Ran é baseado em Rei Lear, de William Shakespeare e, embora seja um dos últimos trabalhos de Kurosawa é certamente um de seus melhores. As cenas são belíssimas, principalmente as de batalha, com toda movimentação dos exércitos etc. Se você quiser assistir a apenas um filme de Akira Kurosawa durante toda sua vida, sugiro Ran.

Curiosidades:

- Durante 10 anos Akira Kurosawa planejou cada cena de Ran, preparando storyboards que mostravam como cada cena deveria ser rodada;

- Na época do início das filmagens de Ran a visão de Kurosawa já estava bastante prejudicada, o que o impedia de rodar sozinho as cenas do filme. O diretor contou então com o auxílio de diversos ajudantes, que se basearam nos storyboards já prontos para preparar cada cena do filme;

- Várias das centenas de figurinos utilizados em Ran foram criados a mão, num processo que levou dois anos para ser concluído;

- Ran utilizou cerca de 1400 extras e 200 cavalos, sendo que muitos deles tiveram que ser importados dos Estados Unidos para a realização do filme;

- O castelo destruído durante Ran foi realmente construído pela equipe de filmagens próximo ao Monte Fuji, tendo posteriormente sido destruído nas próprias filmagens;

- A versão alemã de Ran corta praticamente toda a batalha que ocorre no meio do filme, por considerá-la violenta demais para o público.


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