quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Vira-lata

Autêntico vira-lata (foto por K. Siqueira retirada da internet)



Como já devem saber, o tenista suíço Roger Federer estava em terras tupiniquins para uma série de jogos de exibição para mostrar como ele é bom.

Os jogos ocorreram na estrutura do Ibirapuera em São Paulo. Leio que Federer se referiu às instalações como “um pouco velhas”. Pois bem, se você levar em consideração que Federer é europeu e é da Suíça, podemos entender sua fala no sentido figurado.

Evidentemente Federer foi muito educado e cortês com seus anfitriões, pois certamente o que ele quis realmente dizer é que a estrutura é uma porcaria, está caindo aos pedaços e sem a menor condição de receber nada além de um aterro sanitário.

Logo que li a matéria me veio à mente a tão manjada questão do complexo de vira-lata do brasileiro. É a mais pura verdade. Acontece que tal complexo pode se apresentar literalmente ou de maneira invertida.

Como assim?

Explico: a maneira literal/tradicional e na qual o brasileiro é mestre absoluto, é aquela em que tudo que vem de fora é melhor do que o que se tem disponível por aqui. Não chega a ser uma total inverdade, principalmente se aplicarmos em relação a produtos e serviços.

Vejamos a explicação nas palavras de quem cunhou o termo, o dramaturgo Nelson Rodrigues:

“por 'complexo de vira-lata' entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo”.

Ainda segundo Nelson Rodrigues:

“o brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima”.

A maneira invertida de aplicação do complexo é justamente essa do exemplo aí de cima de Federer. Soma-se o nacionalismo mais rasteiro com o ufanismo mais bocó a todas as porcarias que temos para exibir e pronto: você tem o complexo de vira-latas ao contrário.

Esse caso da visita de Roger Federer ilustra isso perfeitamente bem. Além de oferecerem instalações caindo aos pedaços, levam o cara para conhecer tudo que não deveria ser motivo de orgulho para povo nenhum, de qualquer país. 

Quer um exemplo?

Em outra reportagem a respeito da presença de Federer, esse afirmou que o ponto alto de sua estada tinha sido uma visita à favela de Paraisópolis, onde assistiu a final do campeonato de futsal infantil. 

Não posso acreditar que o ponto alto de uma viagem de qualquer pessoa seja visitar uma favela. Claro que estrangeiros adoram visitar favelas. Devem achar uma coisa pitoresca, diferente.  É muito fácil gostar de favela quando não é preciso morar nela e nem perto dela.

Na última tarde de Federer em terras brasileiras ele vai conhecer as Cataratas do Iguaçu – esse sim, motivo de orgulho e algo em que somos insuperáveis (nossas cataratas ganham de lavada de Niagara. Já estive lá e sei disso. Não tem nenhuma comparação) – antes de seguir seu tour pela America Latina com próxima parada em Buenos Aires.

Na verdade a culpa não é de Federer. A culpa é de quem trás esses estrangeiros de renome para cá, cobra alto para exibí-los (os ingressos para as exibições de Federer custavam até R$ 990,00) e depois levam o cara para visitar favela e jogar em locais sem a mínima infraestrutura. E Federer ainda tem que achar tudo muito bom e bonito.

No fundo o Brasil quer ser reconhecido como uma grande nação que está de igual para igual com as mais desenvolvidas (que piada) e dói nos brasileiros que o país ainda seja confundido com a Bolívia (como fez Ronald Reagan) ou que apesar de ser uma enorme nação, não seja visto como um país sério (como fez Charles De Gaulle). Você vai argumentar comigo que isso é coisa antiga, que não é mais assim, que na atualidade o Brasil é visto como um “player” importante, mas ainda hoje vemos em todos os filmes e seriados estrangeiros que no Brasil fala-se espanhol. 

Isso tudo só vem a corroborar o que disse anteriormente. O Brasil quer ser visto como grande, desenvolvido e sofisticado, mas fica exportando favela, carnaval e mais o que tiver de pior por aqui. Lembrem-se da apresentação do Comitê Olímpico Brasileiro na festa de encerramento da Olimpíada de Londres. O que mostramos? Um gari como representante, um monte de mulatas semi nuas sambando e Ivete Sangalo. Só faltou o Didi. Para tentar “salvar” do vexame absoluto chamaram o Pelé, nossa figura mais ilustre. Tomara que Pelé não morra nunca, porque há mais de 50 anos recorremos a ele quando a coisa aperta.   

E o Brasil ainda quer ser o país do futuro. Que tal tentar ser o país do presente?! Já está de bom tamanho.

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